quinta-feira, 6 de agosto de 2015

[Tema] - Quem é o Nosso Próximo?


Exórdio:

A resposta de Jesus ao fariseu, intérprete da lei mosaica, que deseja envolvê-lo numa trama urdida, além de resultar numa das mais expressivas parábolas do Novo Testamento, abrange três verdades fundamentais no que diz respeito ao nosso relacionamento interpessoal, a saber: a) devemos ajudar a quem quer que seja, até os que, comprovadamente, têm culpa pelo que estão sofrendo; b) qualquer pessoa, independentemente de raça, status, religião, que apresenta uma necessidade concreta, deve ser ajudada, porquanto é nosso próximo; c) a ajuda deve ser prática, e não deve consistir simplesmente em se sentir apenado.

A pergunta quem é o meu próximo, que na época de Jesus desencadeava polêmicas e debates acirrados e intermináveis, vem hoje gerando, em muitos grupos religiosos, posturas e comportamentos os mais variados. Alguns não conseguem responder à pergunta sem exibir imensa consternação; outros optam pela neutralidade; ainda há aqueles que respondem demonstrando possuir visão absolutamente bairrista, sectarista, provinciana sobre o assunto. De qualquer maneira, as respostas dadas vêm apenas confirmar o fato de que a maioria dos grupos evangélicos, talvez todos, ainda não conseguiu enxergar, diante de evidências tão avassaladoras, a comprovada frieza cristã que estamos vivendo em face das necessidades humanas.

Se formos mais sensíveis em nossa observação, veremos que até mesmo na maneira de formular a pergunta quem é o meu próximo, há fortes indícios de discriminação, preconceito, arrogância e visão superior, além da incontestável imagem de quem não está interessado na solidariedade, na fraternidade, na unidade; de quem, de fato, não liga a mínima para ninguém e faz questão de tornar isso público, porque imagina-se a melhor das criaturas e absurdamente satisfeito com o seu comportamento cristão.

Infelizmente, esse tipo de percepção é hoje notória no meio do povo de Deus, que continua confundindo piedade com pietismo, zelo com legalismo, amor com frouxidão, racionalidade com racionalismo, ação com ativismo, oração com indolência, espiritualidade com fanatismo, esperança escatológica com escapismo histórico, vida vitoriosa com triunfalismo, fé com confiança positiva, conversão com cura interior, juízo divino com praga humana, profecia com adivinhação, etc.

O Perfil de um Fariseu 

O homem que está de pé diante de Jesus era um fariseu, uma pessoa incomum, alguém extremamente dedicado e fiel cumpridor da lei mosaica. Os fariseus constituíam a casta religiosa mais respeitada do Novo Testamento. Eram considerados a nata da religião. Eles se ufanavam em dizer que eram “filhos de Abraão”. Com isto eles queriam salientar que faziam parte do acordo que Deus fez com Abraão. Também divulgavam ostensivamente que eram discípulos de Moisés, referindo-se ao pacto que Deus fez com Moisés no Sinai.


Todo fariseu, ao completar quatro anos de idade, decorava o livro de Levítico, considerado o manual das liturgias e cerimoniais dos sacerdotes. Depois de Levítico, decorava Gênesis, Êxodo, Números e Deuteronômio. Ao completar 12 anos, ele era capaz de recitar, de có, os cinco primeiros livros da Bíblia. Com esta idade, ele era levado para o templo para ser argüido pelos doutores da Lei sobre o Pentateuco, ou seja, os cinco primeiros livros da Bíblia. Toda essa dedicação no aprendizado da Lei tornava um fariseu, em pouco tempo, num perito e arguto profissional da Lei mosaica.

Um fariseu, a despeito de ser alguém aparentemente apaixonado por Deus, alguém com tantas oportunidades de conhecer a Deus devido ao seu profundo conhecimento da lei mosaica, havia perdido completamente o alvo primordial da vida e, com efeito, se transformara na figura religiosa mais trágica, incoerente, cínica, hipócrita e tola do Novo Testamento (Mateus cap. 23). Ele en-fatizava um aspecto da Lei, ou seja: amar a Deus, e ignorava o resto: amar o próximo.

O fariseu, da época de Jesus, havia se separado do homem do dia-a-dia, dedicando a sua vida inteiramente a perseguir e a afirmar o seu relacionamento com Deus. Por isso a palavra fariseu possivelmente quer dizer “um que é separado”. A vida de um fariseu era toda dedicada ao cumprimento da Lei. Orava por muito tempo e, às vezes, todo o dia. Durante a adolescência decorava os salmos para adorar a Deus. Toda quarta e sexta-feira jejuava, obviamente lendo as Escrituras. Não perdia uma reunião no templo. O seu dia era todo ocupado com lavagens rituais e cerimoniais. Por exemplo, todo fariseu, antes de qualquer refeição, lavava as mãos, não só por estarem sujas, mas porque queria dizer que era puro diante de Deus. Antes da sobremesa, lavava-se de novo e, depois do café, lavava as mãos novamente para mostrar que, mesmo tendo dado uma parada para alimentar o corpo, continuava, no seu modo de entender, espiritual e puro diante de Deus.

Usava roupas estranhas para chamar a atenção das pessoas para a sua diferença. Só podia usar certo tipo de panela para cozinhar. Tudo o que um fariseu fazia era demonstrar o seu aparente amor por Deus e por sua Lei. Mas esquecera que sua vida com Deus dependia exclusivamente do seu relacionamento com o próximo (Dt 6.3-9).

Quem é o Meu Próximo?

Esta se constituiu uma pergunta muito séria em Jerusalém, na época de Jesus. Os fariseus já debatiam há anos o assunto quem é o meu próximo. Para um judeu simples, por exemplo, o “próximo” era um outro judeu – alguém que estava debaixo da aliança abraâmica. Este, sim, tinha a obrigação de amar, mas todos os outros podia odiar até a morte. Os fariseus, por outro lado, argumentava que, pelo fato de existirem alguns judeus insuportáveis, quando Deus fala de próximo não está se referindo a um outro judeu, mas a um outro fariseu. Eles acreditavam tanto nisso que quando se encontravam no meio da rua, diziam um ao outro: “Como vai próximo!” “Oi vizinho!”.

No livro de Deuteronômio, Deus define o que queria dizer a palavra “vizinho”. Segundo as Escrituras, o próximo não é tão-somente a pessoa da casa ao lado, mas qualquer pessoa com uma necessidade. Isto significa que podia ser estrangeiro e até mesmo um inimigo na estrada. Todos deviam ser tratados com amor, sem acepção, lembrando como Deus os amou quando eram estrangeiros no Egito (Rm 5.8).


Na verdade, aquele intérprete da Lei queria saber se Jesus concordava com a opinião dos judeus ou com a interpretação dos fariseus. Mas o Filho de Deus recusa-se a participar de tal debate. Aliás, Jesus não se interessa por debates doutrinários. Jesus, como que ignorando a pergunta do fariseu, conta-lhe uma história, e, nesta história, mostra que o nosso relacionamento vertical com Deus só pode ser vivido e expressado de forma horizontal, ou seja, amando o próximo.

Israel recebeu a revelação do amor de Deus e não se deu conta da dimensão desta revelação, e por isso tratou-a como algo de cunho exclusivo. Eles padeceram no Egito como escravos; foram odiados, tripudiados e vilipendiados. Mas, mesmo sendo um povo pecaminoso e dado a atos abomináveis, Deus o tirou do Egito, por causa do pacto que fizera com Abraão, e os abençoou com tudo o que precisavam. No entanto, Deus disse a eles: “Quando vier um estrangeiro e vocês forem tentados a rejeitá-lo, lembre-se da revelação que vocês receberam de mim no Egito. Porque quando vocês eram estrangeiros, eu os abençoei, os alimentei e dei a vocês de vestir. Agora, façam o mesmo com o estranho que passa.”


A interpretação da parábola do “Bom” Samaritano
Leia bem esta parábola e a escute com os ouvidos daquele fariseu para quem Jesus a contou. Jesus era um exímio contador de história: Ele sabia escolher muito bem as suas personagens. Ao contar a história, Jesus dá um papel específico a cada personagem. Assim Ele inicia a sua história:

Um certo homem descia de Jerusalém até Jericó”. Observem que Jerusalém fica a mil metros acima de Jericó. O fato é que só tem 27 quilômetros entre as duas cidades. A descida de Jerusalém para Jericó é bem descendente. Para se entender bem esta história, deve-se conhecer a geografia local, pois esta descida é difícil, e o lugar para onde este homem dirigiu-se é muito solitário. Talvez um dos lugares mais desertos do mundo, e, na época de Jesus, este lugar vivia cheio de ladrões, salteadores, bandidos de toda espécie. Qualquer um que atravessasse este lugar era como se estivesse procurando barulho. Muitos morriam nesta estrada. Quase todo dia se ouvia a notícia de que alguém havia sido assaltado ou morto. Esta estrada, na época de Jesus, era conhecida como “via sangrenta”. Então, quando Jesus falou sobre o assunto, o fariseu sabia que isto acontecia todos os dias.

Imagine a imagem que ia se formando na mente do religioso com quem Jesus falava. Jericó é um lugar muito quente, muito deserto. E, se qualquer homem estiver deitado no seu próprio sangue na estrada, com toda certeza será coberto de moscas e os urubus começarão a cercá-lo. Esta era a situação, e Jesus mostra o quadro rapidamente. Mas continua:

Um certo sacerdote também descia esta mesma estrada”. Isto acontecia diariamente. Se você lembrar bem, Jericó foi dada aos sacerdotes e levitas como herança. Então, os sacerdotes que serviam no templo, voltavam todos os dias para Jericó, fazendo esta trajetória. Agora, tente colocar-se no lugar deste sacerdote antes de julgá-lo. Ele acabara de ministrar no templo. [O templo era o centro nervoso de adoração para o povo de Israel.] Havia derramado sangue de animais sacrificados no altar, debaixo de louvores e salmos cantados pelos levitas. Tinha passado o dia todo ministrando no santuário. O sacerdote, na Antiga Aliança, fazia mediação entre Deus e os homens. É esse homem que acabara de sair desse contexto e que ainda conseguia ouvir a voz do coral soando-lhe aos ouvidos e estava sob o impacto dos debates teológicos que eram feitos depois de cada reunião; é esse homem que se sentia bem por ser uma pessoa escolhida e participante de uma nação amada por Deus, que descia, no Espírito, a íngreme estrada de Jerusalém para Jericó e que, ao fazer a curva, vê um homem deitado numa poça de sangue, e vê os urubus rodeando-lhe. Tudo estava tão quente e nojento. O sacerdote não gosta do que está vendo. Mas não lhe ocorre fazer nada, pois não quer perder o espírito de louvor que o invade. Então argumenta consigo que a Lei de Moisés o proíbe de tocar num homem morto, pois, se o fizer, passará sete dias sem poder ministrar no templo. Não quer arriscar ser contaminado. Prossegue seu caminho.

O mal que este homem está cometendo é muito sério. Sua compreensão religiosa está deturpada. Ele só tem lugar para Deus na sua vida; ele não vê o seu vizinho necessitado.
Jesus prossegue com a história, dizendo:

De igual modo também um levita chega àquele lugar...” O levita era o assistente do sacerdote nos cultos. Ministrava em tempo integral no templo em Jerusalém. Ao fazer a curva e perceber o homem deitado e quase morto, ele hesita fazer qualquer coisa, porque acha também que não pode ajudar mesmo em razão de não entender de primeiros socorros.

O leitor entende que estas situações ocorrem frequentemente nas nossas vidas, e que é a grande tentação que nós enfrentamos todos os dias como cristãos.

Se entendermos bem as Escrituras e a grande misericórdia que Deus tem para conosco, com certeza não seremos tentados a roubar, matar pessoas, ou sentar e tecer mentiras. Mas a nossa grande tentação é, em nome de Deus, agir sem amor para com as outras pessoas. Foi para estas pessoas que Jesus falou as suas palavras mais duras.

Você entende o que o levita, a segunda personagem da história de Jesus, representa. Seu procedimento era como se ele dissesse: “Eu já conquistei o meu espaço com Deus; eu o conquistei crendo na doutrina certa e no Deus certo. Eu oro todos os dias; não sou como aqueles que oram ao deus errado. Eu canto os salmos, fluo no Espírito; amo tanto a Palavra de Deus que, cada vez que as portas do templo se abrem, estou presente. Estudo a Palavra até quando não preciso. Eu dou o dízimo e ofertas; eu sei evitar as pessoas que não conhecem a Deus como eu o conheço. Nunca me contamino com pessoas que podem misturar as minhas idéias. Graças a Deus que não sou como os demais; eu me afasto das suas dores, das suas diferenças e me fecho neste relacionamento contigo, ó Deus”.

Sabe, irmão, que é possível a nossa igreja e os nossos programas se tornarem verdadeiros guetos religiosos.

Há uma diferença enorme entre o comportamento de Jesus e o dos fariseus. Por exemplo, um fariseu orava em certas horas do dia; não importando onde estivesse, ele parava para orar, principalmente quando estava em lugar público. Ao orar, tinha que ter a certeza de que estava sendo notado. E, em meio à multidão, erguia as mãos para mostrar como orava a Deus e que, pelo fato de estar falando com Deus, não tinha tempo para mais ninguém. Mas Jesus agia totalmente diferente. O Filho de Deus acordava cedo e orava, via de regra, durante à noite e nas madrugadas. Agora, por que você acha que Jesus fazia isto?

Eu conheço pessoas da linha ortodoxa evangélica que acham que a noite tem algo de sagrado. Pensam que Deus gosta quando você perde o sono; que Deus gosta quando você ora à noite inteira; que Deus gosta de vê-lo cansado. Com efeito, há pessoas que se acham muito santas, porque oram à noite inteira. Outros acordam cedo demais, dormem de joelhos, e, por causa disso, se acham santos, porque acordaram bem cedinho. Isso é um grande equívoco!

Mas, por que Jesus orava a noite inteira? Porque Ele gastava o dia inteiro com pessoas.
- Porque Ele orava às vezes de madrugada? Porque a sua agenda de manhã era toda tomada com pessoas.

Jesus nunca foi inacessível. Nunca disse: “Eu estou ocupadíssimo com Deus e não posso atender ninguém”. Se necessário fosse, Jesus orava a noite inteira, mas, durante o dia, o seu tempo era todo ocupado com as pessoas.

A vida de Jesus foi sempre cheia de gente carente, difícil e que não entendiam as Escrituras; gente que o cansou e o sobrecarregou; mas eram vidas que precisavam da sua bênção.
Quantas vezes estamos tão ocupados com Deus que não temos tempo para mais nada e mais ninguém.

Então Jesus chega ao ápice da sua história, ao dizer que

Um certo samaritano desceu a estrada”. Existia um problema milenar entre os samaritanos e os judeus. Era mais que um problema; eles se odiavam. Com efeito, quando um judeu contava qualquer história ou piada numa roda de amigos e dizia: “um certo samaritano”, era como se ele estivesse introduzindo na história um mau elemento. Então quando Jesus disse: “Um certo samaritano”, o fariseu logo pensou: “Lá vem o mau elemento”. No entender do fariseu, o homem que foi assaltado e espancado, se ainda não estivesse morto, o “samaritano” terminaria o trabalho. [Esse homem deitado na estrada, ao que tudo indica, era um judeu.]

Deus Vos Abençoe,
Pr. Paulo Tomé

Um belo louvor para todos.que nos mostra Àquele que demonstrou o maior exemplo de amor ao próximo jamais encontrado...

O amor ao próximo - JNeto


Um brinde musical fornecido por

ric+JESUS!

Vosso irmão e servo em Cristo Jesus!
 Maranatah!

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