Exórdio:
A resposta de Jesus ao fariseu,
intérprete da lei mosaica, que deseja envolvê-lo numa trama urdida, além de
resultar numa das mais expressivas parábolas do Novo Testamento, abrange três
verdades fundamentais no que diz respeito ao nosso relacionamento interpessoal,
a saber: a) devemos ajudar a quem quer que seja, até os que, comprovadamente,
têm culpa pelo que estão sofrendo; b) qualquer pessoa, independentemente de
raça, status, religião, que apresenta uma necessidade concreta, deve ser
ajudada, porquanto é nosso próximo; c) a ajuda deve ser prática, e não deve
consistir simplesmente em se sentir apenado.
A pergunta quem é o meu próximo, que
na época de Jesus desencadeava polêmicas e debates acirrados e intermináveis,
vem hoje gerando, em muitos grupos religiosos, posturas e comportamentos os
mais variados. Alguns não conseguem responder à pergunta sem exibir imensa
consternação; outros optam pela neutralidade; ainda há aqueles que respondem
demonstrando possuir visão absolutamente bairrista, sectarista, provinciana
sobre o assunto. De qualquer maneira, as respostas dadas vêm apenas confirmar o
fato de que a maioria dos grupos evangélicos, talvez todos, ainda não conseguiu
enxergar, diante de evidências tão avassaladoras, a comprovada frieza cristã
que estamos vivendo em face das necessidades humanas.
Se formos mais sensíveis em nossa observação, veremos que até mesmo na maneira
de formular a pergunta quem é o meu próximo, há fortes indícios de
discriminação, preconceito, arrogância e visão superior, além da incontestável
imagem de quem não está interessado na solidariedade, na fraternidade, na
unidade; de quem, de fato, não liga a mínima para ninguém e faz questão de
tornar isso público, porque imagina-se a melhor das criaturas e absurdamente
satisfeito com o seu comportamento cristão.
Infelizmente, esse tipo de percepção é hoje notória no meio do povo de Deus,
que continua confundindo piedade com pietismo, zelo com legalismo, amor com
frouxidão, racionalidade com racionalismo, ação com ativismo, oração com
indolência, espiritualidade com fanatismo, esperança escatológica com escapismo
histórico, vida vitoriosa com triunfalismo, fé com confiança positiva,
conversão com cura interior, juízo divino com praga humana, profecia com
adivinhação, etc.
O Perfil de um Fariseu
O homem que está de pé diante de
Jesus era um fariseu, uma pessoa incomum, alguém extremamente dedicado e fiel
cumpridor da lei mosaica. Os fariseus constituíam a casta religiosa mais
respeitada do Novo Testamento. Eram considerados a nata da religião. Eles se
ufanavam em dizer que eram “filhos de Abraão”. Com isto eles queriam salientar
que faziam parte do acordo que Deus fez com Abraão. Também divulgavam
ostensivamente que eram discípulos de Moisés, referindo-se ao pacto que Deus
fez com Moisés no Sinai.
Todo fariseu, ao completar quatro anos de idade, decorava o livro de Levítico, considerado o manual das liturgias e cerimoniais dos sacerdotes. Depois de Levítico, decorava Gênesis, Êxodo, Números e Deuteronômio. Ao completar 12 anos, ele era capaz de recitar, de có, os cinco primeiros livros da Bíblia. Com esta idade, ele era levado para o templo para ser argüido pelos doutores da Lei sobre o Pentateuco, ou seja, os cinco primeiros livros da Bíblia. Toda essa dedicação no aprendizado da Lei tornava um fariseu, em pouco tempo, num perito e arguto profissional da Lei mosaica.
Um fariseu, a despeito de ser alguém aparentemente apaixonado por Deus, alguém
com tantas oportunidades de conhecer a Deus devido ao seu profundo conhecimento
da lei mosaica, havia perdido completamente o alvo primordial da vida e, com
efeito, se transformara na figura religiosa mais trágica, incoerente, cínica,
hipócrita e tola do Novo Testamento (Mateus cap. 23). Ele en-fatizava um
aspecto da Lei, ou seja: amar a Deus, e ignorava o resto: amar o próximo.
O fariseu, da época de Jesus, havia se separado do homem do dia-a-dia,
dedicando a sua vida inteiramente a perseguir e a afirmar o seu relacionamento
com Deus. Por isso a palavra fariseu possivelmente quer dizer “um que é
separado”. A vida de um fariseu era toda dedicada ao cumprimento da Lei. Orava
por muito tempo e, às vezes, todo o dia. Durante a adolescência decorava os
salmos para adorar a Deus. Toda quarta e sexta-feira jejuava, obviamente lendo
as Escrituras. Não perdia uma reunião no templo. O seu dia era todo ocupado com
lavagens rituais e cerimoniais. Por exemplo, todo fariseu, antes de qualquer
refeição, lavava as mãos, não só por estarem sujas, mas porque queria dizer que
era puro diante de Deus. Antes da sobremesa, lavava-se de novo e, depois do
café, lavava as mãos novamente para mostrar que, mesmo tendo dado uma parada
para alimentar o corpo, continuava, no seu modo de entender, espiritual e puro
diante de Deus.
Usava roupas estranhas para chamar a atenção das pessoas para a sua diferença.
Só podia usar certo tipo de panela para cozinhar. Tudo o que um fariseu fazia
era demonstrar o seu aparente amor por Deus e por sua Lei. Mas esquecera que
sua vida com Deus dependia exclusivamente do seu relacionamento com o próximo
(Dt 6.3-9).
Quem é o Meu Próximo?
Esta se constituiu uma pergunta muito séria em Jerusalém, na época de Jesus. Os fariseus já debatiam há anos o assunto quem é o meu próximo. Para um judeu simples, por exemplo, o “próximo” era um outro judeu – alguém que estava debaixo da aliança abraâmica. Este, sim, tinha a obrigação de amar, mas todos os outros podia odiar até a morte. Os fariseus, por outro lado, argumentava que, pelo fato de existirem alguns judeus insuportáveis, quando Deus fala de próximo não está se referindo a um outro judeu, mas a um outro fariseu. Eles acreditavam tanto nisso que quando se encontravam no meio da rua, diziam um ao outro: “Como vai próximo!” “Oi vizinho!”.
No livro de Deuteronômio, Deus define o que queria dizer a palavra “vizinho”.
Segundo as Escrituras, o próximo não é tão-somente a pessoa da casa ao lado,
mas qualquer pessoa com uma necessidade. Isto significa que podia ser
estrangeiro e até mesmo um inimigo na estrada. Todos deviam ser tratados com
amor, sem acepção, lembrando como Deus os amou quando eram estrangeiros no
Egito (Rm 5.8).
Na verdade, aquele intérprete da Lei queria saber se Jesus concordava com a opinião dos judeus ou com a interpretação dos fariseus. Mas o Filho de Deus recusa-se a participar de tal debate. Aliás, Jesus não se interessa por debates doutrinários. Jesus, como que ignorando a pergunta do fariseu, conta-lhe uma história, e, nesta história, mostra que o nosso relacionamento vertical com Deus só pode ser vivido e expressado de forma horizontal, ou seja, amando o próximo.
Israel recebeu a revelação do amor de Deus e não se deu conta da dimensão desta
revelação, e por isso tratou-a como algo de cunho exclusivo. Eles padeceram no
Egito como escravos; foram odiados, tripudiados e vilipendiados. Mas, mesmo
sendo um povo pecaminoso e dado a atos abomináveis, Deus o tirou do Egito, por
causa do pacto que fizera com Abraão, e os abençoou com tudo o que precisavam.
No entanto, Deus disse a eles: “Quando vier um estrangeiro e vocês forem tentados
a rejeitá-lo, lembre-se da revelação que vocês receberam de mim no Egito.
Porque quando vocês eram estrangeiros, eu os abençoei, os alimentei e dei a
vocês de vestir. Agora, façam o mesmo com o estranho que passa.”
A interpretação da parábola do “Bom” Samaritano
Leia bem esta parábola e a escute com
os ouvidos daquele fariseu para quem Jesus a contou. Jesus era um exímio
contador de história: Ele sabia escolher muito bem as suas personagens. Ao
contar a história, Jesus dá um papel específico a cada personagem. Assim Ele
inicia a sua história:
“Um certo homem descia de Jerusalém até Jericó”. Observem que Jerusalém
fica a mil metros acima de Jericó. O fato é que só tem 27 quilômetros entre as
duas cidades. A descida de Jerusalém para Jericó é bem descendente. Para se
entender bem esta história, deve-se conhecer a geografia local, pois esta
descida é difícil, e o lugar para onde este homem dirigiu-se é muito solitário.
Talvez um dos lugares mais desertos do mundo, e, na época de Jesus, este lugar
vivia cheio de ladrões, salteadores, bandidos de toda espécie. Qualquer um que
atravessasse este lugar era como se estivesse procurando barulho. Muitos
morriam nesta estrada. Quase todo dia se ouvia a notícia de que alguém havia
sido assaltado ou morto. Esta estrada, na época de Jesus, era conhecida como
“via sangrenta”. Então, quando Jesus falou sobre o assunto, o fariseu sabia que
isto acontecia todos os dias.
Imagine a imagem que ia se formando na mente do religioso com quem Jesus
falava. Jericó é um lugar muito quente, muito deserto. E, se qualquer homem
estiver deitado no seu próprio sangue na estrada, com toda certeza será coberto
de moscas e os urubus começarão a cercá-lo. Esta era a situação, e Jesus mostra
o quadro rapidamente. Mas continua:
“Um certo sacerdote também descia esta mesma estrada”. Isto acontecia
diariamente. Se você lembrar bem, Jericó foi dada aos sacerdotes e levitas como
herança. Então, os sacerdotes que serviam no templo, voltavam todos os dias
para Jericó, fazendo esta trajetória. Agora, tente colocar-se no lugar deste
sacerdote antes de julgá-lo. Ele acabara de ministrar no templo. [O templo era
o centro nervoso de adoração para o povo de Israel.] Havia derramado sangue de
animais sacrificados no altar, debaixo de louvores e salmos cantados pelos
levitas. Tinha passado o dia todo ministrando no santuário. O sacerdote, na
Antiga Aliança, fazia mediação entre Deus e os homens. É esse homem que acabara
de sair desse contexto e que ainda conseguia ouvir a voz do coral soando-lhe
aos ouvidos e estava sob o impacto dos debates teológicos que eram feitos
depois de cada reunião; é esse homem que se sentia bem por ser uma pessoa
escolhida e participante de uma nação amada por Deus, que descia, no Espírito,
a íngreme estrada de Jerusalém para Jericó e que, ao fazer a curva, vê um homem
deitado numa poça de sangue, e vê os urubus rodeando-lhe. Tudo estava tão
quente e nojento. O sacerdote não gosta do que está vendo. Mas não lhe ocorre
fazer nada, pois não quer perder o espírito de louvor que o invade. Então
argumenta consigo que a Lei de Moisés o proíbe de tocar num homem morto, pois,
se o fizer, passará sete dias sem poder ministrar no templo. Não quer arriscar
ser contaminado. Prossegue seu caminho.
O mal que este homem está cometendo é muito sério. Sua compreensão religiosa
está deturpada. Ele só tem lugar para Deus na sua vida; ele não vê o seu
vizinho necessitado.
Jesus prossegue com a história, dizendo:
Jesus prossegue com a história, dizendo:
“De igual modo também um levita chega àquele lugar...” O levita era o
assistente do sacerdote nos cultos. Ministrava em tempo integral no templo em
Jerusalém. Ao fazer a curva e perceber o homem deitado e quase morto, ele
hesita fazer qualquer coisa, porque acha também que não pode ajudar mesmo em
razão de não entender de primeiros socorros.
O leitor entende que estas situações ocorrem frequentemente nas nossas vidas, e
que é a grande tentação que nós enfrentamos todos os dias como cristãos.
Se entendermos bem as Escrituras e a grande misericórdia que Deus tem para
conosco, com certeza não seremos tentados a roubar, matar pessoas, ou sentar e
tecer mentiras. Mas a nossa grande tentação é, em nome de Deus, agir sem amor
para com as outras pessoas. Foi para estas pessoas que Jesus falou as suas
palavras mais duras.
Você entende o que o levita, a segunda personagem da história de Jesus,
representa. Seu procedimento era como se ele dissesse: “Eu já conquistei o meu
espaço com Deus; eu o conquistei crendo na doutrina certa e no Deus certo. Eu
oro todos os dias; não sou como aqueles que oram ao deus errado. Eu canto os
salmos, fluo no Espírito; amo tanto a Palavra de Deus que, cada vez que as
portas do templo se abrem, estou presente. Estudo a Palavra até quando não
preciso. Eu dou o dízimo e ofertas; eu sei evitar as pessoas que não conhecem a
Deus como eu o conheço. Nunca me contamino com pessoas que podem misturar as
minhas idéias. Graças a Deus que não sou como os demais; eu me afasto das suas
dores, das suas diferenças e me fecho neste relacionamento contigo, ó Deus”.
Sabe, irmão, que é possível a nossa igreja e os nossos programas se tornarem
verdadeiros guetos religiosos.
Há uma diferença enorme entre o comportamento de Jesus e o dos fariseus. Por
exemplo, um fariseu orava em certas horas do dia; não importando onde
estivesse, ele parava para orar, principalmente quando estava em lugar público.
Ao orar, tinha que ter a certeza de que estava sendo notado. E, em meio à
multidão, erguia as mãos para mostrar como orava a Deus e que, pelo fato de
estar falando com Deus, não tinha tempo para mais ninguém. Mas Jesus agia
totalmente diferente. O Filho de Deus acordava cedo e orava, via de regra,
durante à noite e nas madrugadas. Agora, por que você acha que Jesus fazia
isto?
Eu conheço pessoas da linha ortodoxa evangélica que acham que a noite tem algo
de sagrado. Pensam que Deus gosta quando você perde o sono; que Deus gosta
quando você ora à noite inteira; que Deus gosta de vê-lo cansado. Com efeito,
há pessoas que se acham muito santas, porque oram à noite inteira. Outros
acordam cedo demais, dormem de joelhos, e, por causa disso, se acham santos,
porque acordaram bem cedinho. Isso é um grande equívoco!
Mas, por que Jesus orava a noite inteira? Porque Ele gastava o dia inteiro com
pessoas.
- Porque Ele orava às vezes de madrugada? Porque a sua agenda de manhã era toda tomada com pessoas.
- Porque Ele orava às vezes de madrugada? Porque a sua agenda de manhã era toda tomada com pessoas.
Jesus nunca foi inacessível. Nunca disse: “Eu estou ocupadíssimo com Deus e não
posso atender ninguém”. Se necessário fosse, Jesus orava a noite inteira, mas,
durante o dia, o seu tempo era todo ocupado com as pessoas.
A vida de Jesus foi sempre cheia de gente carente, difícil e que não entendiam
as Escrituras; gente que o cansou e o sobrecarregou; mas eram vidas que
precisavam da sua bênção.
Quantas vezes estamos tão ocupados com Deus que não temos tempo para mais nada e mais ninguém.
Quantas vezes estamos tão ocupados com Deus que não temos tempo para mais nada e mais ninguém.
Então Jesus chega ao ápice da sua história, ao dizer que
“Um certo samaritano desceu a estrada”. Existia um problema milenar
entre os samaritanos e os judeus. Era mais que um problema; eles se odiavam.
Com efeito, quando um judeu contava qualquer história ou piada numa roda de
amigos e dizia: “um certo samaritano”, era como se ele estivesse introduzindo
na história um mau elemento. Então quando Jesus disse: “Um certo samaritano”, o
fariseu logo pensou: “Lá vem o mau elemento”. No entender do fariseu, o homem
que foi assaltado e espancado, se ainda não estivesse morto, o “samaritano”
terminaria o trabalho. [Esse homem deitado na estrada, ao que tudo indica, era
um judeu.]
Deus Vos Abençoe,
Pr. Paulo Tomé
Um belo louvor para todos.que nos mostra Àquele que demonstrou o maior exemplo de amor ao próximo jamais encontrado...
O amor ao próximo - JNeto
Um belo louvor para todos.que nos mostra Àquele que demonstrou o maior exemplo de amor ao próximo jamais encontrado...
O amor ao próximo - JNeto
Um brinde musical fornecido por
ric+JESUS!
Vosso irmão e servo em Cristo Jesus!
Maranatah!
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