quinta-feira, 6 de agosto de 2015

[Tema] - A Profecia Precisa Ser Novamente Acreditada



O profetismo que a igreja deve exercer na sociedade não é nem de longe o estilo verbal que algumas igrejas incorporaram de ficarem pronunciando bênçãos ou maldição sobre o povo.

O profetismo bíblico é confrontador, desinstalador, denunciador.

Os profetas não foram meros microfones que amplificavam e decodificavam o falar de Deus, mas gente com uma cultura, temperamento e individualidade.

A tarefa do profeta não se resumia em transmitir o ponto de vista divino.

Ele era o referencial do povo. O profeta em Israel não vaticinava apenas.

Ele era também poeta, pregador, patriota, crítico social. Iniciavam suas profecias com juízo, mas sempre concluíam com esperança e redenção.

O profeta não repetia jargões, não perpetuava o que já fora dito, mas pensava fora dos paradigmas. Não era convencional. A mágica de suas palavras vinha de sua intuição, de seu inconformismo e da largura de seus anseios. Inúmeras vezes a linguagem do profeta foi hiper- bólica. O exagero era uma maneira de mostrar sua angústia, seu desespero de não se acovardar diante do iminente fracasso nacional.

Ser profeta não é ser fofoqueiro, nem disseminador de contendas; ser profeta de Deus não é falar o que Deus nunca falou; ser profeta não é adivinhar futuro de ninguém; não é dar palpites futurológicos; ser profeta de Deus não é ter status e utilizar-se da Revelação de Deus para auferir lucros em cima dos incautos sob o pretexto de espiritualidade; ser profeta não é incorporar comportamento exacerbadamente místico na intenção de dominar pessoas inocentes; ser profeta de Deus é ser homem de Deus, mesmo diante dos desmandos que a vida impõe. Ser profeta é não escolher o que se quer falar, para não falar o que não se deve falar; ser profeta de Deus é denunciar estruturas de morte que às vezes se instalam nas eclesias de Deus; ser profeta de Deus é não capitular com as injustiças que se faz em nome de Deus; ser profeta de Deus, hoje, é continuar sendo figura desinstalada e desinstaladora; é não ter orgulho espiritual nem ascensão sobre os outros, por conta do “dom”, mas sim ter a humildade de saber que é apenas “uma voz que clama no deserto”.

O PREGADOR É UM PROFETA

Esta afirmação não implica em êxtases, visões, revelações, arrebatamentos, previsões, etc. À luz da Bíblia, o profeta reflete a época dos grandes vaticínios, das transcendentes inspirações e confrontos ideológicos. É muito mais que um arrebatado, de alguém bem incomum, especial. O pregador-profeta é alguém pronto para cumprir a vontade de Deus, custe o que custar. Por isto mesmo denominar o pregador da atualidade de profeta é, para muitos, distanciá-lo da conjuntura hodierna, como se fosse um extraterrestre.

O pregador cristão é um profeta por se tratar de uma figura incômoda, um desmancha-prazer, conta-própria. A tarefa do pregador-profeta é dupla: a) consolar os oprimidos e b) denunciar o opressor.

É, sem sombra de dúvida, muito difícil imaginar o pregador-profeta como uma pessoa acomodada, conformada. Profeta conformado – ou o falso profeta – era uma espécie de “guru”, que fazia profecia de encomenda.

O pregador-profeta tal quais os profetas antigos, deve ser, na atualidade, esta personagem “incômoda”, manifestando o parecer divino no que concerne a todas as injustiças sociais, enganos, imoralidades, mentiras, racismos, autoritarismos, omissões, opressões sociais, na tentativa de alertar o povo para a forma de vida que o Todo-Poderoso nos oferece em Cristo.

O pregador-profeta tem grande responsabilidade diante de Deus e dos homens, neste final de século: tem que se atualizar, sem se conformar; tem que se confrontar, sem se revoltar; tem que participar, sem contemporizar-se com as injustiças; tem que buscar a espiritualidade, sem se colocar à margem dos problemas da sociedade moderna.

O pregador-profeta não é uma aberração temática, mas sim alguém com profunda consciência do momento histórico que a igreja está vivendo e com grande sensibilidade e abertura para Deus e sua vontade.

O PREGADOR-PROFETA VIVE DE REVELAÇÕES DE DEUS

O pregador que tem o dom ministerial de profeta tem dupla função, a saber:

Função preditiva. Embora seja uma manifestação rara na vida do pregador que tem o dom ministerial de profeta, indiscutivelmente essas coisas acontecem. Não resta dúvidas de que certos relatos bíblicos apresentam o profeta como alguém capacitado para conhecer coisas ocultas e futuras.

Samuel, por exemplo, consegue encontrar as jumentas que o pai de Saul havia perdido (1 Sm 9.6-20).
Aías, já cego, sabe que a mulher que o vai visitar disfarçada é a esposa do rei Jeroboão, e prediz o futuro de seu filho enfermo (1 Rs 14.1-6).
Elias anuncia a morte iminente de Acazias (2 Rs 1.16,17).
Eliseu sabe que seu criado, Geazi, ocultamente aceitou dinheiro do ministro da Síria Naamã (2 Rs 5.20-27) etc.

Revelar os mistérios das Escrituras Sagradas. Para compreender o que o Espírito Santo quer dizer à igreja, hoje, é necessária uma voz profética, revelando aquilo que a tradição e o dogma têm ocultado. Esta “revelação profética” refere-se à plena compreensão da Palavra de Deus, através de uma pessoa escolhida e ungida para trazer à luz as verdades que nos libertem.

Os profetas (ministério) predizem o futuro (At 21.11,12), mas são também dotados do poder especial da prédica, da revelação de verdades profundas da parte de Deus. Essa é a sua função precípua (At 13.1; 15.32).

O PREGADOR-PROFETA COMO UM CONFRONTADOR SOCIAL

Esta imagem profética não é muito bem quista entre as igrejas atuais. Mas já as tradições mais antigas fizeram:

Natã enfrenta Davi, por causa do assassinato de Urias e o adultério com Batseba.
Elias recrimina Acabe por ter-se apoderado da vinha do assassinado Nabote (1 Rs 21).

E esta luta pela justiça, sem medo dos poderosos, é o princípio motor dos profetas Amós, Miquéias, Oséias, Jeremias e Ezequiel, cada um a partir de perspectivas e pressupostos diversos.
Nestas circunstâncias, o que chama a atenção do pregador-profeta não são as previsões futuras, nem tampouco (e até menos) seu caráter de homem solitário. O pregador-profeta é um gigante admirável, não por retirar-se para a solidão que o coloca em contato com as ideias mais sublimes, mas porque se compromete plenamente com a sociedade de seu tempo e luta por transformá-la.

O PREGADOR-PROFETA É UM HOMEM INSPIRADO POR DEUS

Ninguém em Israel teve uma consciência tão clara de que era Deus quem lhe falava e de ser porta-voz do Senhor como o profeta. E esta inspiração lhe vem de um contato pessoal com Deus, que começa no momento da vocação.

O único ponto de apoio, força e motivação do profeta é a Palavra de Deus. Palavra que às vezes se assemelha ao rugido de um leão (Am 1.2), e em outras ocasiões é “gozo e alegria íntima” (Jr 15.16).

Palavra com frequência imprevista e imediata. Palavra dura e exigente em muitos casos, que se converte em “fogo ardente e devorador, encerrado nos ossos”, que é preciso suportar e proclamar (Jr 20.9). Palavra de que muitos gostariam de fugir, como Jonas, mas que termina impondo-se e triunfando.

O PREGADOR-PROFETA É UM HOMEM AMEAÇADO

Muitas vezes sentirá o que Deus disse a Ezequiel:

“E eles vêm a ti, como o povo costuma vir, e se assentam diante de ti como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra (em prática); pois lisonjeiam com a sua boca, mas o seu coração segue a sua avareza”.

E eis que tu és para eles como uma canção de amores, canção de quem tem voz suave e que bem tange; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra (em prática). Mas, quando vier isto (eis que está por vir), então, saberão que houve no meio deles um profeta (Ez 33.31-33).

É a ameaça do fracasso apostólico, de perder-se numa causa que não encontra eco nos ouvintes. Mas isto é o mínimo que lhe pode acontecer.

Há situações muito mais duras.

Oséias é chamado de “louco”, “néscio”;
Jeremias é acusado de traidor da pátria. E se chega também à perseguição, ao cárcere e à morte.
Elias deve fugir do rei em muitas ocasiões;
Miquéias termina na prisão;
Amós é expulso do Reino do Norte;
Jeremias passa na prisão vários meses de sua vida;
Urias, filho de Semaías, é apedrejado e jogado na fossa comum (Jr 26.20-23).

Estas perseguições não vêm somente de reis e poderosos, mas também de sacerdotes e falsos profetas. E até o povo se volta contra eles, os critica, despreza e persegue. No destino dos profetas fica prefigurado o de Jesus de Nazaré.

A ameaça pior pela qual passa o pregador-profeta é a ameaça que vem de Deus. Este tipo de ameaça muda a orientação da vida do profeta, arranca-o de sua atividade normal, como acontece com Amós ou com Eliseu. Deus pede-lhes uma mensagem muito dura.

É o caso de Samuel. Ainda menino, deve transmitir ao sacerdote Eli, que o tinha criado desde pequeno, sua condenação pessoal e a de seus filhos (1 Sm 3). Com razão diz o narrador que, na manhã seguinte, Samuel “não se atrevia a contar a Eli sua visão” (v. 16).

É o caso de Ezequiel, que nem sequer no momento da morte de sua esposa a pôde chorar tranquilamente; mais importante que sua dor é a Palavra de Deus, que o força a transmiti-la por meio de uma dolorosa ação simbólica (Ez 24.15-25).

PROFETISMO DE COSTAS PARA O PRESENTE

Nosso profetismo está de costas para a realidade presente porque se acostumou a profetizar de olhos fechados. É mais fácil para os nossos profetas falar da vida alheia do que denunciar questões maiores no que concerne às últimas tendências da sociedade hodierna.

Nosso profetismo está de costas para a realidade porque se acostumou a um profetismo intramuros. Nossos profetas só sabem falar para dentro; nunca aprenderam a falar para fora. São profetas que não têm mensagem para fora.

Nosso profetismo está de costas para a realidade porque não consegue fazer leitura do nosso momento histórico. A rigor, nosso profetismo não consegue sair do plano doméstico. Seu universo é estreito e por isso tem a tendência de virar fofoqueiro.

PROFETISMO DE AUSÊNCIA

Nosso profetismo é de ausência porque é a-histórico. É trans-histórico, supra-histórico. Não abre janelas nem portas para o momento que estamos vivendo.

Nosso profetismo é de ausência porque é verticalista. Só olha para cima. Sua perspectiva sempre é para cima. Não tem equilíbrio.

Nosso profetismo é de ausência porque não é confrontador. Quando se confronta só consegue se confrontar com o inimigo imaginário.

Nosso profetismo é de ausência porque é totalmente visionário. O profeta tem mais visão de dentro de si mesmo do que uma visão real do mundo e de Deus.

O QUE FAZER

Mudar a rotina profética. Devemos nos reeducar biblicamente com relação ao profetismo a fim de podermos fazer nosso papel profético.

Mudar nossa dimensão profética. Devemos abrir bem os olhos para ser a voz profética que Deus quer que sejamos.

Mudar a nossa concepção profética. Ser profeta não é status, não é privilégio, não é pertencer a um grupo elitizado. É ser sensível à voz de Deus e estar pronto a compreender os caminhos de Deus em tempo de crise.

COMO FAZER

Não profetizar por entusiasmo, mas com a responsabilidade de estar falando palavras de Deus. O profeta não pode ser movido por entusiasmo, mas por ação de Deus.

Não profetizar como um tipo de “tique” profético. Profeta não é jeito, não é moda, não é demonstração de espiritualidade; profetismo, acima de tudo, é vida.

Não profetizar para não perder a pose de profeta. Profeta não deixa de ser o que é porque não profetiza, mas porque profetiza por si mesmo, enganando e sendo enganado.


Não profetizar enquanto não tiver a certeza de que se está falando palavra de Deus. Profeta é um porta-voz de Deus e não um intérprete da palavra de Deus.

Peroração:

As lições que encerram esta mensagem são muitas. Por isso gostaria de destacar algumas:

1. Profeta não é aquele que pensa estar com a verdade, mas aquele que traz a verdade de Deus aos homens sem exibicionismo.

2. Profetizar de olhos fechados é para os imaturos. Profeta de Deus está consciente da mensagem que está passando.

3. O profeta verdadeiro não é tão-somente o que fala a verdade de Deus, mas o que vive a verdade que está falando.

4. Ser profeta não é status; é ter a esmagadora incumbência de dizer a verdade acima do seu próprio sentimento.

5. Ficam de fora dos planos de Deus aqueles que ousam falar em nome do Senhor quando não foi o Senhor que lhes mandou falar


 Deus vos abençoe,
Pr. Paulo tomé
 
 Eu verei novo céu e nova terra - Alessandra samadelo 
 
 
  Um brinde musical fornecido por 
ric+JESUS!

Vosso irmão e servo em Cristo Jesus!
 Maranatah!

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