domingo, 26 de julho de 2015

[Tema] - A teologia da Cruz


Há muitas coisas apreciáveis nos escritos paulinos. Uma delas me impressiona: a cruz de Cristo.

Para o apóstolo dos gentios a teologia da cruz encerra – de uma vez por todas – o ciclo sacrificalista, pois, segundo Paulo, Jesus é o sacrifício que nos livra de todos os sacrifícios – mysterium tremendum!

Nós, evangélicos, estamos muito longe dessa descoberta paulina. Isto porque nós somos sacrificalista.

Nossa prática cristã é estruturalmente sacrificalista.

Oramos, jejuamos, nos consagramos, nos santificamos de forma sacrificalista.

O que é que eu estou afirmando?

Estou dizendo que a cruz de Jesus – nosso total livramento dos sacrifícios – é hoje, nos meios evangélicos, uma forma de aprisionamento.

Somos sacrificalistas e ainda incentivamos os outros a serem como nós.

GOLPE DE MISERICÓRDIA

Com a morte vicária na cruz, Jesus deu o golpe de misericórdia em toda a instituição sacrificalista, pois Ele é o “Cordeiro de Deus” que tira o pecado do mundo.
Isto posto, eu não preciso mais de nenhum sacrifício; não preciso me submeter a nenhum tipo de auto-flagelação para ser salvo, porque a salvação em Cristo foi-me dada através da Graça de Deus, pelo sacrifício completoperfeito e final de Jesus.

 Na cruz, Jesus bradou: “Está consumado!” (ou seja: está tudo pagofinalizado, não há mais nada a fazer para acrescentar ou tirar com respeito à salvação da humanidade).

A cruz de Cristo é de fato e por direito, o fundamento da nossa salvação.

É como se os céus dissessem: os sacrifícios feitos no Templo de Jerusalém devem cessar imediatamente; os sacrifícios que nós, evangélicos, hoje praticamos devem cessar já.

Nenhum sacrifício tem mais razão de ser, porque foi tudo pago e finalizado na morte expiatória de Jesus.

Ninguém tem que pagar preço algum para ser salvo. Isto porque tanto a salvação é de graça como as bênçãos oriundas da misericórdia de Deus também.

O QUE É O SISTEMA SACRIFICALISTA?

É aquele que se baseia no dogma da retribuiçãoEu faço alguma coisa para Deus a fim de receber o seu favor.

Se eu faço o que Deus gosta, Ele tem prazer em mim, mas se não faço o que ele gosta, Ele pesa a mão sobre mim.

O objetivo desse sistema é manter as pessoas presas à ideia inflexível da causa e efeito.

Se você está recebendo as bênçãos de Deus é porque Deus está se agradando de você.

Mas se algo de errado estiver acontecendo com você, é que a sua vida não vai muito bem diante de Deus.

Olha o pecado que estamos cometendo: voltamos a praticar rituais, cerimoniais, sacrifícios, enfim, tudo que a cruz de Cristo já tinha eliminado.

O sistema sacrificalista manipulado pela classe sacerdotal voltou com força total através das igrejas católicas e protestantes.

Pior: o sistema sacrificalista, que é respaldado pela classe sacerdotal, além de tornar Deus um ídolo sádico e avarento, que deseja o sacrifício dos seus filhos até o último pedaço de vida a fim de abençoá-los, ainda O transforma na imagem de um “deus pagão” inescrupuloso, que vive das oferendas dos seus adoradores.

APLACAR A IRA DE DEUS

O sistema sacrificalista se desdobra em várias vertentes no mundo evangélico.

Algumas vezes aparece com o rosto de piedade, atrelando o sucesso de uma pessoa a alguma prática cristã recomendada, como a oração, o jejum, a santificação etc.

Outras vezes, ele se apresenta com a ideia de aplacar a ira de Deus. Ou seja: eu, como cristão, tenho que fazer alguma coisa para Deus a fim de aplacar a sua ira.

Significa que os reféns desse sistema opressor se mantêm absolutamente dependentes dele (do sistema).

Isto é não entender o amor de Deus que, em Jesus Cristo, aproximou-se do homem de forma incondicional.

Significa dizer que Deus não me ama pelo que eu sou, pelo que eu faço ou porque sou consagrado e santo; Deus me ama pelo que Ele é - um Deus de amor. Ou seja: eu não preciso fazer absolutamente nada para obter o amor de Deus, porque Ele me ama por querer se manifestar aos homens através do amor:

“Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu
por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo
justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque, se
nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu
Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.
E não somente isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso
Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação"
(Romanos 5.8-11).

A cruz de Cristo vem para acabar com o poderio da classe sacerdotal que se locupleta na miséria de almas que carregam o peso do sentimento de culpa imposto por aqueles que pontuam a santificação, o jejum, a consagração como meios para se chegar à salvação.

Mas a Bíblia chega e diz:

Pela graça sois salvos, por meio da fé; isto não vem de vós, é dom de
Deus; não vem de obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2.8).

A cruz de Cristo eliminou de vez a glória que os homens sentiam por suas boas obras.

De acordo com as Escrituras Sagradas, nós fazemos as boas obras não para sermos salvos, mas porque somos salvos. “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2.10).

A cruz de Cristo elimina toda obsessão que nós, evangélicos, temos pelo fazer, já que o mais importante não é o que fazemos, mas sim o que Ele (Jesus) já fez por nós. “Alegrai-vos, antes, pois os vossos nomes estão escritos nos céus” – assevera Jesus.

Quer dizer que o mais importante na vida cristã não foi, não é e nem será o que fazemos para Deus, mas sim o que já foi feito por nós, na pessoa de Jesus Cristo, nosso Redentor, na cruz do Calvário.

Fico por aqui, por hora, com esta pequena reflexão.
Sobre a teologia da cruz com as palavras de Paulo:

“Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso
Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu
para o mundo” (Gálatas 6.14)


Eu começo a segunda parte da “Teologia da Cruz” exibindo ipsis litteris o que eu recebi pela internet. Trata-se do desabafo de um padre católico, que elaborou muito bem sua resposta à demanda jurídica SOBRE A RETIRADA DOS SÍMBOLOS RELIGIOSOS DOS LUGARES PÚBLICOS.

Ação do Ministério Público Federal que pede a retirada de símbolos religiosos nos locais públicos federais de São Paulo. Sobre a decisão de retirarem a Cruz dos lugares públicos.

Que resposta bem dada de um padre consciente!

Esse Frade falou em nome de todos os cristãos.


Sobre a decisão de retirarem a Cruz dos lugares públicos, temos a resposta muito bem elaborada de um padre consciente!

“Sou Padre católico e concordo plenamente com o Ministério Público de São Paulo, por querer retirar os símbolos religiosos das repartições públicas.


Nosso Estado é laico e não deve favorecer esta ou aquela religião.

A Cruz deve ser retirada!


Nunca gostei de ver a Cruz em tribunais, onde os pobres têm menos direitos que os ricos e onde sentenças são vendidas e compradas.

Não quero ver a Cruz nas Câmaras Legislativas, onde a corrupção é a moeda mais forte.

Não quero ver a Cruz em delegacias, cadeias e quartéis, onde os pequenos são constrangidos e torturados.

Não quero ver a Cruz em prontos-socorros e hospitais, onde pessoas (pobres) morrem sem atendimento.

É preciso retirar a Cruz das repartições públicas, porque Cristo não abençoa a sórdida política brasileira, causa da desgraça dos pequenos e pobres”.


Mas se vamos retirar a Cruz (ou a sua real mensagem) de algumas instituições, pelo fato de elas fazerem o oposto do que o símbolo exige em sua mensagem, precisamos, primeiramente, ser honestos em relação a realidades passadas e presentes e fazer uma profunda varredura em nossas igrejas.

Em segundo lugar nós, cristão-evangélicos – para sermos bem sinceros com a Cruz de Cristo e suas boas novas, estamos devendo muito a Deus e a Jesus.

 Pois a razão da Cruz de Cristo – libertação do homem do sistema sacrificalista – foi perdida pela igreja.

Pior: tudo que a Cruz se tornou com a morte do Filho de Deus para consumar todos os sacrifícios, rituais, cerimoniais, foi subvertido pela igreja, que fez o retorno dos homens aos sacrifícios, às penitências, indulgências, num claro desprezo a tudo quanto a Cruz de Cristo representou e representa em termos de libertação.
Usar a Cruz de Cristo como amuleto e símbolo de opressão é um dos piores sacrilégios que uma instituição que se diz cristã pode cometer.

Usar a Cruz de Cristo com formato de espada para matar milhares e milhões de vidas foi um dos maiores pecados da igreja.

Usar a Cruz de Cristo para explorar os ricos e oprimir os pobres é ato condenável pelas Escrituras.

Usar a Cruz de Cristo a fim de manter o povo subjugado a práticas sacrificiais que a própria Cruz os libertou é de novo crucificar o Filho de Deus.

Usar a Cruz de Cristo para manter as práticas servis das pessoas, num ato de ver seus pecados perdoados, é vituperar o sacrifício de Jesus.

Usar a Cruz de Cristo como elemento de superstição, levando milhões de pessoas ao engano de pensar que estão protegidas é prática dissimulada contra a fé pública.

Eu não quero ver a Cruz de Cristo em instituições cristãs que só usam a Cruz como instrumento mágico para aumentar a superstição religiosa, subjugando pessoas a se tornarem “pagadores de promessas”, “escadas-da-penha” ou coisa que o valha.

Eu não quero ver a Cruz de Cristo (a sua mensagem) em instituições cristãs que sabem apenas cantar e decantar poeticamente a Cruz, mas não tem nenhum entendimento sobre a sua importância e a sua natureza libertadora.

Eu não quero ver a Cruz de Cristo em instituições cristãs que negam a eficácia do sacrifício do Filho de Deus por todos os seres humanos, pelo fato de não entenderem nada sobre a real mensagem da Cruz.

Eu não quero ver a Cruz de Cristo em instituições que insistem em trazer de volta os sacrifícios que foram – todos eles – cravados para sempre no Calvário, fazendo a salvação de Cristo ser algo descartável e sem eficácia.


Eu não quero ver a Cruz de Cristo em instituições cristãs que fazem do pecado e da punição sua moeda de troca a fim de auferirem lucros em cima do povo simples e miserável.


Eu não quero ver a Cruz de Cristo em instituições cristãs que desvirtuaram a real mensagem da Cruz, reduzindo-a a um mercantilismo barato de consumo do sagrado.

Eu não quero ver a Cruz de Cristo em instituições cristãs que renovam a ideia de sacerdócios fechados, lugares sagrados e inacessíveis ao homem comum, pois isso é vituperar o sacrifício de Jesus, o qual nos abriu um novo vivo caminho para Deus sem precisarmos de mediadores humanos.

Eu não quero ver a Cruz de Cristo em instituições cristãs que, como forma de controle, trazem de volta jugos e fardos pesados que o sacrifício de Jesus já destruiu.

Eu não quero ver a Cruz de Cristo em instituições cristãs que levam as pessoas à prática da vida cristã em forma de sacrifício: oram, jejuam, se consagram, vão ao monte, evangelizam, vão à igreja tendo que fazer alguma para Deus a fim de aplacar a sua ira.

Não é o que eu faço para Deus que me garante a salvação em Jesus, mas, sim, o que já foi feito por mim na Cruz do Calvário, através de Jesus. Isto porque Ele (Jesus) é o sacrifício que me livra de todos os sacrifícios. As boas obras devem ser feitas por mim não para me salvar, mas porque eu já sou salvo (ponto).

 Portanto, eu não oro para ser espiritual; eu oro porque já sou espiritual;

Eu não jejuo para ser espiritual; eu jejuo porque já sou espiritual;

Eu não leio a Bíblia para ser espiritual, eu leio a Bíblia porque já sou espiritual.

"Pela graça sois salvos; por meio da fé, e isto não vem de vós é dom de Deus, não vem de obras para que ninguém se glorie" (Efésios 2.8)

Deus Vos Abençoe,
Pr. Paulo Tomé

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